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Eu desaprendi.

Essa talvez seja uma das coisas mais estranhas de notar nessa fase da minha vida.
Em algum momento eu acreditei - ou fui levado a acreditar, que a gente ia acumulando conhecimento e informações, e íamos evoluindo e aprendendo cada vez mais. Claro, podíamos mudar de opinião muitas vezes, mudar de lado, mudar de ideia. Mas desaprender, jamais. Por muito tempo achei que as coisas eram como "andar de bicicleta". Mas não são. Pelo menos, não pra mim.

Pra começar, desaprendi a escrever. Relendo hoje alguns dos posts aqui no blog (que eu não visitava há alguns anos), alguns comentários de pessoas que foram tocadas por algo que escrevi e as trocas que tivemos, a frequência com que eu postava... Tudo isso me fez perceber mais uma habilidade que eu simplesmente perdi: a de escrever. Entendam, aqui digo escrever no sentido mais filosófico da coisa, no de olhar pras coisas, pro dia-a-dia, pra rotina, pras duas pessoas andando na rua e sentir que dali pudesse tirar algo realmente inspirador. Do simples para o incrível. E essa percepção de que desaprendi a escrever só veio porque, intencionalmente entrei aqui para falar sobre outra coisa que notei que desaprendi, que é que desaprendi a acreditar, não em tudo mas em um monte de coisa.

Desaprendi a acreditar em boa parte das boas intenções. Desaprendi a acreditar que "os bons são maioria", o que não significa que os maus o sejam, apenas que a maioria das pessoas são só pessoas que se importam mais com elas mesmas do que com o coletivo. Aliás, não acredito mais também que as coisas vão melhorar aqui neste planeta. Não vão. Não vai acontecer uma grande onda de consciência global, onde as pessoas vão entender que devemos cuidar da natureza, dos menos afortunados, dos mais vulneráveis, ou qualquer outra coisa nessa linha.

Porém antes de ir pra questão mais importante sobre o que notei que eu deixei de acreditar, acho necessário esclarecer uma coisa: talvez quem esteja lendo isso até aqui, pode ter a percepção de que eu estou infeliz ou insatisfeito com algo na minha vida pessoal. E isso não é verdade. Pra ser sincero estou bem, feliz, satisfeito com quase tudo que está acontecendo vida nesse momento. Talvez "satisfeito" não seja a palavra mais correta aqui, mas não consigo encontrar outra no momento (aqui um adendo sobre outra coisa importante que venho desaprendendo constantemente: o português. Morar em outro país faz com que meu cérebro delete algumas palavras do meu vocabulário para dar espaço para as novas. Fonte? Minha cabeça, mas tenho certeza que é isso!). Estou morando numa cidade que amo, num país que me acolheu. Tenho um casamento que me traz segurança e paz. Não me falta nada de importante. Consigo fazer 3 viagens por ano... Enfim, realmente tudo dentro do esperado e, de fato, bom. Dito isso, eu preciso dizer a principal coisa que eu deixei de acreditar: em mim.

Não, não é fácil assumir isso assim tão publicamente aqui (ainda que isso aqui não seja tão público ou conhecido assim). Mas, como de sempre foi, escrever este blog sempre foi uma forma de dizer algo pra mim mesmo. Mas ainda mais difícil do que assumir, foi perceber isso.
Eu sei que pode parecer pra quem "vê de fora" que aqui nada mudou. Mas mudou muito. Acho que eu tenho a habilidade de fazer com que as pessoas (que importam pra mim) me vejam da forma como eu quero que elas vejam: seguro, bem resolvido, firme, estável. E tem um tempo que eu tenho me esforçado tanto, mas tanto, pra convencer a mim mesmo sobre isso, que eu fui deixando de lado qualquer possibilidade que me fizesse perceber que sou (estou) diferente de tudo aquilo que eu quero ser nesse momento: seguro, bem resolvido, firme, estável. Mas na real, especialmente no ano de 2024, estou exatamente o oposto de tudo isso.

Ando inseguro sobre todo o meu potencial e tudo aquilo que eu sempre acreditei que era capaz de fazer. Não sei mais ao certo se acredito nas coisas que me pareciam inegociáveis há até pouco tempo. Tenho estado completamente perdido sobre o que fazer ou como prosseguir. Meus sentimentos e humor tem mudado diversas vezes num mesmo dia. E então, pra deixar isso de lado e tentar me manter nessa carapuça que eu mesmo criei, eu parei de me enxergar, de me olhar e de me perceber. Parei de observar o simples como algo que pode ser extraordinário e me eduquei para perceber tudo como apenas "coisas". Eu comecei a esperar de mais de mim e da vida, e então não consegui mais me lembrar do meu próprio discurso de que "a vida acontece no hoje, nas pequenas coisas da rotina e não nos grandes acontecimentos". Para manter a minha pose, eu fiz com que a vida parecesse mais sem graça pra mim. E assim eu comecei a olhar somente pra aquilo que eu criei na minha fantasia sobre o que eu acreditava que as pessoas esperam de mim. E aqui tem duas coisas bem importantes que eu precisei relembrar: a primeira é a de que eu não são tão importante pra quase ninguém ao ponto de as pessoas esperarem algo (nenhum de nós é, e ainda bem). E a segunda é que, mesmo pras pessoas que importam e esperam algo, nenhuma delas é mais importante do que eu mesmo sobre aquilo o que eu quero ser. Relembrar isso tem sido libertador.

Claro, reaprender tudo o que desaprendi vai ser um exercício que vou precisar praticar. E muito provavelmente se reaprender vai ser de uma forma diferente. Mas escrever aqui foi o primeiro deles. É um compromisso que eu assumi pra poder voltar a olhar pro simples e ver que a vida está ali. Perceber o casual, a rotina e os detalhes estão me fazendo lembrar no tanto que eu evoluí até aqui. O alemão não está como eu imaginava? Tudo bem, olha o tanto que aprendi em tão pouco tempo. O cargo que eu queria não veio? Tá certo, aceitar algum outro não é um passo pra trás... Eu queria ser um monte de coisa, ter centenas de habilidades, mas eu sou o que sou, sou o que posso ser, e tá tudo bem.

Eu desaprendi a cuidar de mim e agora vou aprender a me reencontrar.

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