Agora aqui na Alemanha são 2:18 da manhã mas no meu computador está marcando 21:18 para que eu consiga me adaptar melhor à minha rotina de trabalho morando em um continente e trabalhando em outro. E essa nem de longe é a coisa mais inesperada da minha nova rotina atual.
Nesse momento, estou sentado no meu escritório dentro da minha casa na Alemanha. Estou casado. Trabalhando como head de conteúdo de uma empresa que eu sou sócio agora. Devo dizer que, se eu tivesse que descrever qual seria a minha situação de vida hoje há dois anos atrás, o cenário seria completamente diferente.
Há pouco mais de um ano, eu estava pedindo demissão de um emprego estável, onde eu ganhava um salário razoável, morando em um bairro nobre da minha cidade, com família e amigos por perto. Ou seja, a perfeita zona de conforto que tanta gente almeja. Mas não eu. Não naquele momento.
Resolvi então me jogar no escuro, rumo ao desconhecido, para viver as coisas que eu sempre havia sonhado, para descobrir o mundo fora de debaixo das asas dos meus pais e aprender, na prática, como seria estar somente "eu por eu". Não posso dizer que fui mal nessa missão, muito pelo contrário. Lendo ainda agora meus últimos textos, pude reviver por alguns minutos todo o turbilhão de sensações que eu senti nos meses de 2019, do intenso dois mil e dezenove.
Hoje, quando eu fecho os olhos, eu consigo me ver perfeitamente dentro daquele Awesome Backpackers em Cape Town, chegando em um país completamente novo, com um inglês sofrível tentando me comunicar com o recepcionista e, como um anjo, a Thais aparecendo para me ajudar. Ela de fato foi como um anjo naquelas primeiras semanas. Adiantando um pouco o tempo, consigo lembrar perfeitamente da minha chegada no Playground Hostel em Bangkok. Muito tempo que eu não sentia um medo como aquele. O receio de que as pessoas ali não me entendessem, de não dar conta do trabalho completamente novo pra mim... Lembro das vezes em que me escondi no meu quarto porque queria sumir. E de todas as bebidas que bebi lá também. Adiantando mais o relógio do tempo, consigo lembrar a primeira vez que botei os pés em Amsterdã. Em como me senti em casa naquela cidade, da forma como tudo ali me abraçou. E também que comer brownie mágico no café da manhã de jejum não é a melhor ideia que se pode ter. E eu não aprendi a lição. E lembro também da traumática chegada na Irlanda. Em como o país me recebeu mal. No frio que senti esperando o ônibus que não passou. Na porta que não estava aberta para me receber quando cheguei. No medo de ter que dormir na calçada num frio quase negativo e sem roupa apropriada. E recordo também da chegada na Alemanha. No pavor que senti quando percebi que naquele momento, de fato, estava se iniciando um novo capítulo da minha história. Que estava morando em um país que nunca havia cogitado. Que três anos antes eu não conhecia nada da cultura que não fosse ligado à histórico de guerras e salsicha. E que eu estava indo morar em uma cidade menos habitada que minha rua no subúrbio do Rio de Janeiro onde fui nascido criado.
Mas eu passei por isso também.
E antes ainda do ano acabar, em um dia desses sem muita pretensão (ou nenhuma, na verdade), me aparece um projeto que, no começo, seria bom para eu ocupar a mente. E eu fui me entregando, despretensiosamente, e de repente, eu sou head de conteúdo de um portal com foco em desenvolvimento humano, exatamente em um momento em que o mundo têm pedido socorro. É, esqueci de comentar sobre uma informação importante, agora o mundo se encontra em quarentena por conta de um vírus que 4 meses atrás não era conhecido entre os seres humanos. Não sabemos o dia de amanhã, seguimos contabilizando infectados e mortos. Não se sabe quando vai parar, quando voltaremos à nossa vida normal, mas isso é uma coisa que eu já deveria estar habituado, né?
Enfim, agora, ainda sem sono, sigo aqui sentado na minha cadeira, olhando pela janela, sem saber do que esperar do dia da amanhã, muito menos do próximo ano. Mas eu sigo, sempre sigo, ainda que não saiba muito bem para onde.
Para constar, no meu computador agora marca 21:44. No meu celular 02:44. E eu estou no meio sem saber ao certo se estou aqui ou lá. Mas, onde seria "aqui"?
Até breve (?)
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