As vezes sinto como se vivesse num eterno ensaio geral para a grande estréia, onde tudo já esta milimetricamente ensaiado, todo o texto decorado, cenário pronto e aquele frio na barriga do "tá chegando a hora"... Mas a hora nunca chega!
As vezes sinto como se estivesse preso num personagem que eu mesmo criei, e que me convenci de que assim sou... Que vivi tanto esse personagem que acabei acreditando na verdade dele e me deixei levar.
E assim sendo, todo dia decoro o mesmo texto e sigo o mesmo ritual: demoro a por os pés fora da cama ao acordar, e quando enfim os coloco no chão, vou direto para o banho, pois não gosto da minha imagem refletida no espelho ao acordar, ligo o chuveiro e sempre deixo a rolar por alguns minutos, poucas vezes penso em alguma coisa nesse momento, e se penso, não deve ser nada de importante, pois nunca me recordo sobre o que pensava... Saio do banho, passo a mão no espelho embaçado pelo mormaço da água quente do chuveiro, e encaro o mesmo rosto todos os dias, me encaro por uns instantes, sorrio e esse, se não sair naturalmente, eu o forço até que saia, até que me convença que de fato quero sorrir, e só depois disso começo a encarar as pessoas, sorrio para as pessoas, dou bom dia... Até quando não quero fazer nada disso.
Procuro sorrir para todos e me preocupo mais com os problemas deles do que com os meus, quase sempre acho meus problemas banais, e eu presto atenção nos outros com prazer, sinto bom grado ao fazer alguém sorrir, mesmo que eu não queira sorrir.
Passo o dia todo assim, e no fim do dia, antes de me deitar, novamente me encaro no espelho, e sinto a mesma sensação de que estou num ensaio geral, que a platéia logo estará lotada e então farei a grande estreia... Mas ai nada acontece, os holofotes se apagam, fecho os olhos, adormeço e aguardo pelo dia seguinte...
Acho que esta confuso.
Desconsidere isso, estou com sono.
Até breve (?)
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