Deixa eu mimar você, adorar você, agora, só agora... Porque um dia eu sei, vou ter que deixá-lo ir... (♪)

Poucas vezes senti meu coração tão apertado, na verdade, acho que nunca o senti da maneira como foi a quase uma semana atrás.

Eu me conheço bem, e por isso, sei que não sei lhe dar com despedidas, nunca soube. E por isso prefiro sempre apelar para o 'quem não é visto não é lembrado', e costumava funcionar, costumava.

Quando fiquei sabendo do inevitável, tentei não acreditar e esperava que as coisas mudassem de figura, ainda que soubesse que essa era uma situação quase que impossível eu acreditei.

E durante todo o tempo que estava entre o dia em que fiquei sabendo e o fatídico dia da partida, eu não toquei no assunto, e evitava falar seja com quem fosse, porque essa é a minha maneira meio covarde de encarar situações extremas.

Confesso que desde o dia em que fiquei sabendo eu, meio que inconscientemente, já me afastei um pouco para que melhor pudesse me adaptar quando ele não estivesse mais por aqui, doce ilusão.

Acho que minha crença de que Deus faz tudo na hora certa me fez aceitar melhor a situação e me deu sabedoria para que eu entendesse que o melhor para uma criança é estar junto dos pais, ainda que me doa confessar isso, e muito.

O dia foi se aproximando e eu continuei evitando, e de certa forma, fiquei aliviado de que o dia seria logo no carnaval, que eu não estaria por perto e por isso, seria mais fácil para mim.

Na noite anterior, como se ele adivinhasse tudo o que eu sentia, antes de dormir, ele simplesmente me olhou e veio se deitar no colo, e ali ele ficou até adormecer, como há um tempo ele não fazia... E eu ali, apenas admirando aquela criaturinha a qual eu velava o sono e fazia em pensamento a mais longa e sincera oração que já fiz por alguém, ainda que naquele momento a ficha tenha começado a cair, eu não pensei na despedida, apenas conversava com Deus para que protegesse e cuidasse daquela criaturinha... Ele adormeceu, sentia o suor escorrer por suas dobrinhas por conta do calor e, numa atitude inteiramente egoísta eu não queria deixá-lo na cama, queria poder senti-lo em meus braços o máximo que pudesse, porque eu sabia que não teria como ter certeza de quando seria a próxima vez que eu o teria em meus braços... Quando comecei a pensar nisso o peso da despedida caiu como uma tonelada sobre meus ombros e tive que me retirar da sala para que não acabasse chorando ali mesmo. Saí e fiz minhas malas, distraí meus pensamentos, na medida do possível.

Não dormi aquela noite, e também não poderia chorar pois não estava sozinho, como agora.

Amanheceu o dia, e a dor da despedida já doía como se mil agulhas entrassem no meu peito e fizessem movimentos de rotação a todo instante. Entrei no quarto de madrugada tentando fazer o mínimo de barulho possível, não queria acordar ninguém, queria apenas poder observá-los dormir por alguns instantes e então partiria. Não deu. Minha irmã acordou assim que eu entrei e a única coisa que consegui fazer foi lhe dar dois beijos e desejar-lhe boa viagem, ainda que minha vontade tenha sido me deitar na cama com ela e implorar para que ela não fosse e que ficasse aqui conosco... Eu não fiz, nem "eu te amo" eu consegui dizer, ainda que não tivesse faltado vontade para isso também.

Fechei a porta atrás de mim e deixei que duas lágrimas caíssem, apenas. Segui viagem. E nesse momento não consegui segurar minha emoção. Acho que por estar pegando uma estrada, assim como ele estaria logo mais, me distanciando da minha casa e ouvindo muitas músicas, fez com que todo aquele sentimento que guardei durante quase um mês desabassem por cima de mim e tudo saísse em forma de lágrimas... Ainda que dentro do carro eu estivesse com alguns dos meus melhores amigos, eu não queria falar sobre isso, queria apenas sentir a minha dor, chorar, colocar tudo pra fora e acho que de alguma forma eles entenderam isso porque em nenhum momento me fizeram nenhuma pergunta, me senti melhor por isso e porque não queria responder nada mesmo.

Depois que chorei como há MUITO tempo não chorava, decidi que não poderia 'estragar' o carnaval de ninguém, e nem o meu. Procurei não pensar muito nisso porque sempre que penso minha voz embarga e minha visão embaça.

O fato é que ainda que eu entenda que isso faz parte da vida, não é fácil chegar do trabalho / faculdade todos os dias e não ter ele me esperando na janela pra ver quem tinha chego, a felicidade dele quando comprovava que era o dindo que tinha chego, quando resolvia que queria comer comigo, quando dormia sobre meu corpo... Não dá pra descrever a maneira como a casa parece estar mais vazia e como essa arrumação toda me incomoda agora...

Ai meu Deus que saudade! E ainda não faz nem uma semana, mas meu coração já dói como se fizessem anos...

Da mesma maneira que nunca vou esquecer o dia em que ele falou "Dindo, te amo, te amo, te amo muito! muito! muito!", eu espero que ele nunca esqueça que esse Dindo aqui o ama mais que tudo nessa vida.

"Mesmo quando eu não mais estiver, lembre que me ouviu dizer o quanto eu me importe e o que senti, agora, só agora... Talvez você perceba que e nunca vou deixá-lo ir..."

Até breve (?)