Vai, voa... Se quiser, volta.
Vou voar também, como normalmente acontece, eu volto. Sempre voltei pro ninho.
"Quem tem asas vive em perigo por querer um céu pra voar", e o céu é tão gigantesco que muitas vezes pode nos fazer esquecer qual é o caminho de casa.
Pássaro que sou, nunca soube compreender como algumas pessoas conseguiam viver bem em cativeiros gradeados. Gaiolas, viveiros, zoológicos nunca fizeram muito sentido para mim, e talvez por isso eu nunca tenha conseguido me adequar tão bem a esses diversos tipos de relacionamentos possessivos e cheios de satisfações que vemos por aí.
Sempre quis poder bater minhas asas e voltar pro ninho quando e se quisesse. Mas essa minha ânsia de liberdade caminha lado a lado com minha vontade de ter um abraço apertado e cama quente no final do dia. Dúbio, não?
Tantas e tantas vezes voei para que não vissem que na verdade meus olhos estavam marejados, outras vezes voei porque sentia que não tinha mais espaço ali para as minhas asas, já voei pra poder chorar de soluçar e não parecer pássaro fraco.
Outras vezes voei pra perto porque precisava de um abraço mas nunca soube pedir. Muitas vezes voei porque temi a tempestade que se formava dentro de mim e busquei sol em outrem, mas não soube deixar isso claro. Já voei em frangalhos e coloquei minha dor no bolso quando supus que outro pássaro precisava de mim, engoli meu choro e maquiei meu melhor sorriso. Sempre enganei bem.
Hoje, ainda depois de tantos voos, de tantos céus, tantos ninhos diferentes... Ainda não aprendi a pedir. Aprendi a engolir minha frustração mas não aprendi a dizer que meu coração está adoecido. Aprendi a compreender todas as angústias dos outros, mas não aprendi a mostrar as minhas da forma como realmente são, e não de forma que pareça aos outros que é só mais uma besteira. Não aprendi a confrontar meus sentimentos, mas cada vez que começo a falar e sou interrompido por um "isso é uma besteira", maquio meu sorriso e faço acreditar que realmente é uma besteira, mesmo que não seja.
Essa imagem de pássaro que bate as asas quando bem entende talvez tenha pintado uma tela que não necessariamente seja a que enfeite sempre minha sala de estar. As pessoas aprenderam a me deixar voar e talvez não mais se esforcem pra me fazer ficar, provavelmente eu mesmo que pintei esse quadro, e como não aprendi a pedir, como posso querer que se esforcem para que eu fique?
O problema é que eu sinto de mais, não sei conviver com o meio termo, com o mais ou menos, com o talvez. Ou é agora ou não é mais, ou é aqui ou é nunca... Tenho a mania de criar ideias mirabolantes e, cada vez que escuto um "tanto faz", um "talvez", um vento mais frio, um abraço menos apertado, um beijo menos ardente, esqueço um pouco mais o caminho e a vontade de voltar.
Gosto da liberdade, isso é inegável, e uma outra vez ouvi "melhor é voar a dois", e acreditei nisso.
Quando escolho voar a dois, não significa que eu precise (e nem queira) que todos os voos sejam assim, mas quero sentir que na verdade, os maiores voos não serão solitários. Não quero lembrar o tempo que, bem provavelmente não será assim pra sempre, eu sei como é a realidade, mas gosto de acreditar no para sempre, pelo menos enquanto o voo é duplo. Gosto da fantasia de poder criar esses planos a dois, isso alimenta minha vontade de querer voltar por acreditar que estou construindo algo para daqui um, cinco, cinquenta anos.
Cada vez que sinto que meu pouso não passa de passagem, a vontade de voltar diminui... Eu gosto da fantasia, mesmo que de fato seja apenas um pouso.
Até breve (?)
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