Sem preliminares, ele entra e larga sua mochila no chão perto da cama, pega a garrafa de tequila e serve uma generosa dose para ele mesmo, toma sem limão e sal, sente a queimação da garganta e vai pro banho.
Liga o chuveiro em água corrente e senta no chão do box enquanto sente a água morna percorrer seu corpo, não sabe ao certo quanto tempo permaneceu ali, mas foi o suficiente para que ele passasse os últimos 5 meses a limpo.
Sai do banho, volta pro quarto, serve mais uma dose de tequila para ele mesmo, pega seu caderno e resolve escrever, quando vai começar, encontra um envelope em cima da cama, abre, relê aquilo que havia escrito na noite anterior e sente até um certo alívio de ter esquecido de levar hoje. E então ele se desfaz dele.
Deixa o caderno de lado e desiste de escrever. Deita na sua cama, liga o som e deixa que seus pensamentos vaguem por onde achar melhor.
Olha seu celular e não tem nada ali, e ele sabe que não terá. Essa não é a primeira vez, mas agora é diferente.
É diferente porque ele quer ter alguém com quem possa ter uma história junto.
É diferente porque ele quer ter alguém com quem possa planejar as férias.
É diferente porque ele quer ter alguém que ele não precise fazer silêncio quando o telefone tocar.
É diferente porque ele quer ter alguém que não precise se esconder das fotos.
É diferente porque ele quer ter alguém com quem possa ao menos tirar fotos.
É diferente porque ele quer ter alguém que não precise inventar histórias para evitar ter de dar explicações.
É diferente porque ele não quer ser a opção para os dias distantes.
É diferente porque ele quer alguém que traga a segurança de poder contar por tempo indeterminado e não alguém que corre o risco iminente de um dia pro outro abdicar de tudo porque podem voltar de vez pra casa.
É diferente porque ele quer ter alguém que não precise fingir que mal conhece por um tempo mesmo que nos outros dias se falem a todo instante.
É diferente porque ele quer alguém que tenha constância na reciprocidade.
E no meio disso, ainda assim, ele sabe o quanto é difícil o de agora em diante, pelo menos por enquanto.
Ele já passou por essas coisas e sabe que passa bem, obrigado. E que logo estará tudo nos conformes.
Mas dessa vez... É mais difícil.
É difícil porque dessa vez não foi algo platônico, foi algo construído.
É difícil porque dessa vez é mais racional que emocional.
É difícil porque dessa vez é alguém que ele admira.
É difícil porque dessa vez é alguém que tira ele de sua zona de conforto e isso tem feito muito bem.
É difícil porque ele se acostumou com o cheiro, com o toque, com o beijo, com o sexo.
É difícil porque ele começou a gostar.
É por isso e apenas por isso que ele precisa de um tempo.
Ele precisa se acostumar com a ausência.
Ele precisa novamente se recolher para arrumar a bagunça que fez dentro de si mesmo.
Ele precisa se livrar dessa sensação de soco no estômago e amargo na boca.
Ele precisa se afastar pra se reencontrar.
Ele precisa reaprender a deixar que outras pessoas se aproximem e, quem sabe, ocupem aquele espaço que ele havia vindo guardando inconscientemente e deixando que tal pessoal tomasse conta.
Ele ainda pode te levar a praia que você não conhece, ainda pode te apresentar um mundo um pouco mais alucinado, ainda pode trocar muitas ideias com você, mas apenas como bons e novos amigos que são, e ele espera que sempre sejam.
Mas agora ele precisa de um tempo.
Se nesse tempo perceber que ele te faz falta, que poderá dar a reciprocidade que ele precisa, que seja o momento em que ele não precisará ficar em silêncio quando tocarem os telefones, que ele poderá tirar fotos e incluir você em seus planos, você sabe onde o encontrar e aí, então, poderão recomeçar de onde pararam.
Por enquanto, vocês param por aqui.
Até breve (?)
Muito bom, Wendell!
ResponderExcluirMe identifiquei muito com o que escreveu!
Que bom que gostou!
ExcluirCaso tenha um blog, me manda o link que eu gosto de ler os textos de pessoas que se identificam com alguns dos meus.
Abraços