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Estou escrevendo meu último ponto final, então peço que não queira continuar essa história.


Chega uma hora que você se senta no sofá, apoia os cotovelos nos joelhos, cobre o rosto com as mãos e pensa que já deu tudo o que tinha que dar. Sério! Pra você já deu. A partir desse momento, será só você e… você!

Relacionamentos amorosos podem ser extremamente complicados, desgastantes e sair deles sem mágoas, saudade e melancolia é algo que ainda não aprendi. Na verdade, sequer sei se isso é possível. Alguém sempre sai machucado, não é mesmo? É o que dizem por aí. É assim que eu me encontro agora. Isso significa que ainda não superei, significa que saí tão machucado a ponto de não mais acreditar no amor romântico que vejo por aí. Me pego pensando em quando vou me permitir novamente, mas sempre me boicoto.

De que adianta tentar me abrir se tudo termina assim? Se eu sempre amo demais e deposito boa parte da minha felicidade nas costas de alguém que não eu? Isso é errado. Depositar o que você tem de felicidade em outra pessoa, por mais incrível que ela seja. Por mais sincera e bondosa, ela nunca vai corresponder às suas expectativas por um motivo simples: ela não é você e ela nunca vai pensar como você.
Bom, é só uma fase. E não pode ser a última, pois quero que chegue a hora em que eu me permita de novo. Mas não hoje… Hoje quero passar o dia de pijama e cabelo bagunçado. Quero me afundar num pote de sorvete. Quero me arrumar à noite e sair despretensiosamente com os amigos, porque, sabe… Eu sei que vai ter a fase do quarto escuro, de maratonar Friends, do drama e do medo da solidão. São só fases difíceis. Um amontoado de fases difíceis e necessárias.

Um dia vou esbarrar acidentalmente com você, minha perna não vai mais tremer, meu coração vai apenas bombear meu sangue sem qualquer cerimônia, um filme dos últimos meses vai passar pela minha cabeça e eu vou sorrir, porque realmente não terá sido o fim do mundo.
No fim, algo dentro de mim chamará minha atenção para um grande e esperado evento. “Ei, você! Percebe que não dói mais?”. Mas não agora, porque agora ainda dói.
Não adianta. Eu poderia gastar todo o meu português para defender as lições que a vida vem ensinando a esse meu coração teimoso. Eu poderia construir orações bonitas e poetizar meus pontos de vista. Eu poderia dizer um milhão de palavras para militar pelo amor em que acredito, mas quando o assunto é relacionamento as coisas são um tanto diferentes. Não tem regra. Não tem protocolo. Há quem ame igual a mim e há quem ame diferente.

Mas vai passar… Sempre passa. Não há dor que dure. Quando se sabe viver o amor, a infelicidade é algo que não se agrava. Eu sabia que você ia partir. Eu sentia isso na alma. Mas tudo bem. Eu sempre estive pronto para isso. Eu vou ficar bem. Quem sabe lhe serei grato. Talvez alguém próprio e melhor para mim venha a ocupar a sua vaga. No passado, eu mal podia me conter pra saber como uma nova história de amor recomeçava. Hoje isso me parece pouco ou então… Quase nada. Eu não quero pegar esse corpo e fazer uma tempestade num copo d’água.

Não se culpe. Eu estou despreocupado. O que sinto agora, não me manterá preso nem muito menos fragilizado. Essa é a vida nos mostrando como ela deve ser vivida, subida, assim como uma escada. A queda nos pode ser dura, mas não nos mata. Você se vai. Outros tantos já foram. Dói ainda para depois eu estar mais forte e completamente curado. Por isso estou de mudança do seu coração.

Bom, espero que não se importe com a bagunça. É tempo de faxina e preciso arrumar o apartamento. Sabe como é, as coisas andavam meio fora do lugar e pensei em começar a organizá-las. Talvez você encontre algumas coisas minhas por lá, é que estou tentado separar o que é meu e o que era nosso. A verdade é que estou de mudança mesmo. Tentei ao máximo não aceitar que deveria partir, mas as coisas uma hora precisavam se resolver. E olha só… Estou indo antes que a bagunça fique maior. A nossa desorganização era até boa de manter quando ainda era nossa, mas é que hoje me dei conta que, por um tempo demasiadamente longo, passei a bagunçar as coisas sozinho.

Acho que você encontrou uma maneira melhor de tocar a vida, e não te culpo por isso. Você tinha razão quando disse que minhas coisas andavam muito espalhadas. Que talvez você não conseguisse se encontrar em meio a essa confusão que eu sou. Mas acontece que essa é a versão mais genuína de mim. Quem eu seria se não fosse essa bagunça?
E tudo bem, você estava certo. Uma hora cada um precisaria seguir o seu próprio caminho. Agora estou aqui, juntando aquilo que restou de bom para que continuem sendo sempre assim… uma parte boa de você. Não são muitas coisas que pretendo levar, acho, inclusive, que elas caberiam perfeitamente só nessa minha bolsa de mão aqui.
Ah, as lembranças... Bem, confesso que fiquei na dúvida se as levaria comigo. Afinal, sempre foi tão bom reviver os momentos em que você me guardava em seus braços. Mas sabe de uma coisa? Estou montando uma casa nova e pensei que talvez a decoração deva ser outra. Bem capaz de não ter espaço para essas velhas lembranças. Acho que, neste momento, elas estão apenas incomodando e me fazendo mal por saber que nunca mais serão reais. Talvez elas devam ficar aí, se você quiser. Mas aceita uma dica? Elas ficariam melhores fora do seu apartamento também. Agora elas podem não te incomodar, mas um dia podem vir a ser algo ruim. Espero que não precise passar por isso, afinal sei o quanto dói.

Mas olha, desistir nem sempre é tão chato assim. Às vezes abre um caminho. Confuso no início, mas com o tempo a gente pega o jeito da coisa. Bom, acho que todas as minhas coisas estão arrumadas já. A bagunça diminuiu, não foi? Então, agora é hora de partir, porque finalmente… Fim. Espero que entenda. As coisas realmente não podem continuar com vírgulas. Estou escrevendo meu último ponto final, então peço que não queira continuar essa história.

Até breve (?)

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