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Você tem certeza do que sente, né?


Estive lendo alguns textos nesses últimos dias. Na verdade, faz um tempo que voltei a ler muitos textos, o que não fazia ultimamente. E então me deparei com um do Dr. Drauzio Varella, que dizia: “Uma relação tem que servir para tornar a vida dos dois mais fácil”. Vou dar continuidade a esta afirmação porque o assunto é bom, e merece ser desenvolvido.
Muitos dizem que sou louco. Talvez eu seja mesmo.
Louco por acreditar nas pessoas, louco por preferir me calar muitas vezes ao dizer coisas ruins para/sobre alguém. Talvez seja louco por não guardar mágoas. Talvez eu seja louco por “vestir a camisa” de pessoas que nem conheço tanto, mas que sinto que são muito mais do que mostram, do que conseguiram enxergar de si. Talvez seja louco por transformar sentimentos em textos, por preferir botar pra fora ao invés de guardar e se afogar em tudo o que não foi “dito”.
E falando nisso, entre nós nada nunca foi muito claro. Trocas de olhares, trocas de palavras, de costumes, de momentos. Você surgiu na minha vida e eu surgi na sua e então tudo estagnou-se. Nada de paixão avassaladora ou algum sentimento que nos prendesse na necessidade de um pelo outro. Foi apenas liberdade, a nossa, que acabou nos prendendo pouco a pouco. Sem nada precisar ser dito nasceu um amor. Subentendido.
Sempre foi assim entre a gente, eis uma grande ironia da vida: não lembro direito dos detalhes de quando nos conhecemos, tampouco lembro o que nos levou a uma aproximação tão intensa. Tenho certeza que precisava te conhecer e que essa necessidade também é sua. Parece que tudo foi para eu ver meus defeitos e virtudes espelhados em outra pessoa.
De uma forma ou outra acredito que teríamos nos encontrado. Eu precisava ter vivido todas aquelas situações. E sei que você vai lembrar quando ver a minha foto no outro lado do mundo. Ou talvez você esteja lá comigo – por que não?
O abraço sincero, o sorriso provocado por uma besteira qualquer, o beijo inesperado dentro do carro, o porre para afogar mágoas que nunca precisaram ser ditas – afinal você sabe que tipo de coisas são essas, não é mesmo!? Até mesmo a noite de comemoração de um ano que nunca aconteceu. Eu sei de tudo isso e você sabe o motivo do meu saber. Eu sou a sua revolta com os problemas do mundo, sou a sua alegria com a beleza das tardes. A sua força de viver algo além do padrão, a sua sede pelas conquistas que a vida oferece. Sou seus olhos, suas convicções, seus interesses, seu coração. No fundo você sabe quem eu sou. Mas isso também fica subentendido. Como tudo sempre ficou.
E então eu me recordo que eu te esperei. Eu olho pra tudo. Eu sei o que você sente, mas nesse momento eu tento não mergulhar dentro de você. Eu canso, eu dancei muitas vezes nessa chuva pra achar que em vez de não pegar um belo resfriado, você vai abrir a porta da sua vida com um cobertor pra me aquecer. Não posso ser. Não posso ter. Não posso querer. O quê? Nada. Absolutamente nada. Você escolheu a mim para esperar? Esperar o inesperado… O inalcançável. Esperar uma pessoa tão questionável quanto contemplável. Questionável por ser quem é, contemplável pelo mesmo motivo, ou justamente o inverso disso. Eu queria não ter esperado você. E apesar de ter, a metafísica ainda me permite querer. Querer continuar à espera, que é isso que insisto em sentir... Mesmo dizendo que não, sinto que continuo no mesmo lugar de sempre, esperando que algo aconteça. O tempo me jogou uma isca. Ou foi você? O que era chama, hoje é faísca.
Quando de repente você sumiu, foi o momento que todo o mundo sucumbiu.
Sucumbiu ao redor do meu pequeno mundo intransferível. Pequeno, mágico e terrível. É um terror viver a espera de alguém. Mesmo quando aquém, remexidamente, revira seu céu e o além. Além disso, até que me sinto bem.
Eu sou um romântico, você tende a achar o oposto. Eu não deixo transparecer. Você continua seguindo a sua vida, enquanto eu finjo que não vou te perder. Enquanto isso, as saudades retornam, me fazem companhia, eu sofro, mas não há nada que eu possa fazer.
A teimosia impregnada em nossas fugazes ações diárias parece nem passar mais no campo do pensamento. Sei que você anda estressado e com a vida corrida mas, será que seria muita audácia pedir que ainda assim tirasse algum tempo para ler um texto importante?
Puxe um banco e sente aqui comigo, vamos conversar um pouco. Vou começar te contando algumas coisas que acontecem de vez em quando. Isso magoa muito de alguma forma as pessoas. E o pior de tudo é que você nem se dá conta disso. Mas saiba meu amigo, isso ainda pode talvez remoer na sua consciência. Espero que se esse dia chegar ainda exista tempo. Tempo para pedir desculpas, a ferida cicatrizar nos corações atingidos e a memória já nem processar direito os sentimentos anexos à essas lembranças.
As coisas vêm dando errado ultimamente. Elas vêm dando bem errado. Vêm dando errado há algum tempo. Tenho culpa nisso e sei que tenho. Isso piora tudo, inclusive. Venho errando com a vida e ela vem errando comigo. A grande batalha é pra ver se a gente se entende. Os encontros não acontecem, as esperanças arrefecem e a euforia anda murchando. As oportunidades não se convertem, as vontades não se mantêm e as verdades não prevalecem. Chego a desconfiar que as verdades sejam mentiras e que o errado talvez seja a única coisa em que eu acerto. Eu erro. Venho errando. Isso é quase sempre certo. Ouvi dizer que acertos são erros primeiros e flutuo nessa estranha esperança de que um dia terei uma coleção de lindos acertos. Por hora só erros. Muitos deles. Acertos de um futuro incerto. Queria escrever um desfecho bonito, mas desconfio que estaria errando comigo. Se eu sigo errando, poetizar não é o certo. Não há palavra bonita nem mensagem de aconchego. Errar dói e errar muito tortura. Escrevo de novo quando acertar. Talvez essa seja a única cura.
Eu sei que você sabe que um dia posso cansar de você e não voltar mais. Ou, melhor,  posso enjoar desse seu jogo para, enfim, deixar de sentir falta. Não que duvide do que você sente, mas apenas por estar vivendo o replay eterno. E aí, fica a pergunta: Qual o nome disso que você acha que carrega?
Fica difícil decifrar teus passos, entende? Te vejo procurando num dia, sumindo no outro, reaparecendo mais pra frente e ignorando as mensagens um tempo depois. É estranho. Não bate com tudo isso que você diz, na verdade, com o que você disse um dia, pois faz tempo que não escuto... Até porque, a gente sabe que o amor causa um zumbido insistente no ouvido pedindo pela presença do ser amado.
Você deixa que eu bata minhas asas sem parar enquanto eu fico tentando voar de volta para o jardim sem encontrá-lo. Asas cansadas de um ser que, mais cedo ou mais tarde, encontrará outro lugar para pousar. Eu não posso dizer que você está certo ou errado. Acho que levamos nossas relações da melhor maneira para nós mesmos. O problema é que costumamos esquecer que uma relação é feita a dois. Você tem certeza do que sente, né?
Uma hora as desculpas não colam, as mensagens que aparecem não alimentam um sentimento, o olho no olho se torna frio. O que era gostoso passa a ser sem sal e todo o sentido se esvai. Aí, com a alma carregada das decepções que se viveu e as expectativas que se criou, partiremos.
Eu posso cansar de você.
Você pode cansar de mim.
E a culpa... Será de quem?

Até breve (?)

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