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Coisas de um viajante solitário...

Viajar sozinho é estar entregue a à mercê de um turbilhão de sentimentos e situações, que mudam e se transformam, a todo instante.
Ontem estava conversando com uma das hóspedes do hostel em que estou trabalhando agora, e ela me disse: "O que você está fazendo é incrível e corajoso, mas acho que é tão difícil... Não conseguiria abrir mão de tudo assim.". No momento em que ela falou isso, minha ficha não caiu, eu disse somente que pensar a respeito é muito mais complicado do que, de fato, fazer. E realmente é isso, mas então, quando deitei na cama comecei a pensar sobre isso...  Realmente, não é fácil.
Os últimos 3 meses têm sido os mais intensos de toda a minha vida. Nunca me senti tão dono de mim e das minhas vontades, mas também nunca estive tão vulnerável. Tudo se acentua porque eu não escolhi fazer uma viagem simples, por locais onde eu conheço a cultura e domino o idioma. Todos os dias eu acordo torcendo para que nada de errado aconteça, e que se caso acontecer, eu consiga cruzar com alguém que fale ao meno um inglês entendível para mim.
Perdi as contas de quantas vezes chorei nesses últimos três meses (e eu já nem lembro quando tinha sido a última vez que eu tinha chorado antes). Algumas vezes de saudade, outras de receio, outras por motivos que nem sei dizer (turbilhão de sentimentos, lembram?). Mas também perdi as contas de quantas vezes me senti tão feliz e com vontade de gritar isso pro mundo todos, e algumas vezes eu até gritei mesmo!
Algumas vezes me senti sozinho e com vontade de pegar o próximo voo de volta pra casa, pro colo do Elias, pra casa dos meus pais, pra perto dos meus amigos... Mas tantas outras vezes eu conheci (e venho conhecendo) tanta gente bacana, que me faz abrir os horizontes e enxergar o mundo (e a mim mesmo) de tantas outras maneiras.
Nem sei dizer quantas vezes eu quis apenas me trancar em algum lugar para não ter que precisar falar com ninguém e tantas outras vezes o que eu mais queria era ter alguém com quem eu pudesse simplesmente tomar uma cerveja e falar umas centenas de besteiras...
Sinto falta da minha cama, do meu banheiro, da minha rotina, do meu trabalho, da minha academia... Mas eu tenho descoberto tanta coisa nova todos os dias que eu nem sei como ainda tem espaço para tanta saudade, essa as vezes boa e as vezes vem numa porrada que me dá até uns minutos de tontura.
Enfim, todo dia é uma surpresa, e no geral, isso é maravilhoso! Mas não, não é fácil!
Eu estou ganhando o mundo do meu jeito, do jeito que sempre sonhei... Mas só agora percebi que eu não posso ganhar o mundo sem perder o "meu mundinho". Ganhar o mundo é ganhar corações, experiências, histórias. Ganhar o mundo é perder muita coisa para um dia, quem sabe, valorizá-las.
Viajar pelo mundo, se enfrentar na cultura de quem não sabemos se gosta de danças e abraços, não é um sonho de final de semana, não é um dinheiro que se vê sobrando na conta corrente e, por sorte e tempo de sobra, nos faz decidir passar uma semana fora. Viajar é um estado de espírito. É colocar o coração munido de amor e coragem na mochila e sair por aí deixando de escanteio o que os outros falam. Até porque, o que os outros falam, é só o que os outros falam... E eles sempre falam tanto...
Chega uma hora que, mesmo gostando do nosso trabalho e amando a nossa família, a gente se questiona quem somos, o que construímos e para onde iremos. Perguntas que se parecem básicas. E por isso são tão complicadas. Qual o meu hobby? No que realmente eu sou bom? Qual o meu papel no mundo? O que eu quero daqui para frente? Perguntas, vezes retóricas, vezes um poço sem fim. Se questionar, sem tomar uma atitude sobre as respostas, é acreditar numa coragem estável demais para ser chamada de coragem. E coragem, convenhamos, é coisa de gente grande.
Mas no meio disso tudo, esse turbilhão de sentimentos continua a todo instante. Muitas vezes eu quero sumir, essa é a verdade. E sumir, não é, nem de longe, se esconder do mundo ou das pessoas que me rodeiam. Não é fugir dos problemas, das obrigações ou dos amores passados. Sumir é querer me encontrar num mundo que ainda não vivi. É tentar descobrir por que preciso de tantos pré-requisitos para ser “feliz”. É querer ser alegria, não pois tenho um carro, um apartamento em um bairro bom ou um trabalho descolado, mas porque estou sendo realmente feliz longe do senso comum, longe do que eles esperam de mim, longe do que todos queriam que eu fosse, e eu, felizmente, não fui.
Mas mesmo querendo sumir, queria poder ajustar todos aqueles que amo e sinto falta dentro desse meu mundinho, mas o ponto é que cada um tem seu próprio mundo, e eu sei que, provavelmente, o meu é o mais complicado de todos nesse momento.
Se eu tenho medo? Todo santo dia. Se eu acho que deveria ficar quieto por aqui, sem me questionar muito, pois largar a segurança é algo dolorido e amargo demais? Duas vezes, todo santo dia. Mas, todo dia, quando acordo, também me pergunto se a vida é só isso mesmo. E, felizmente, eu acho que não. Seja o que for, mas a vida não pode ser somente essa busca incessante por um bom trabalho e uma casa super bem decorada com fotos e quadros na parede. Mesmo que, no auge da minha maturidade, eu adore fotos e quadros na parede.

Até breve (?)

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