Lembro exatamente das palavras que me disse naquele dia:
- Você gosta de mim?
- Não como você merece, mas gosto.
- Sabe, nunca entendi porque eu nunca ganhei um texto seu.
- E isso importa?
- Na verdade, sim. Você escreveria um texto pra mim?
- Sim, acho que sim.
- Não precisa. Não importa mais. Acabou de deixar de importar. Não vou mendigar um texto seu igual mendigo sua atenção. Mereço mais que migalhas. Pode me levar pra casa, por favor?
Consenti. Dirigi por uns 20 minutos em silêncio absoluto. Ela foi embora sem se despedir e então ela sumiu.
Depois de um longo tempo nos encontramos novamente, no aniversário de uma amiga em comum. Ela me cumprimentou da mais cordial que pôde, mas o olhar de uma mulher magoada é incrívelmente desestabilizador. E então eu percebi que ainda que eu não tenha dado nenhum motivo para que ela me odiasse, ainda que eu tenha tentado que todos os nossos momentos juntos fosse o mais agradável possível, eu nunca escrevi um texto para ela, com isso, provavelmente, eu também nunca esbocei sentimento qualquer para com ela. Muito menos peguei sua mão e levei para apresentar para meus amigos. A única coisa que a ofereci foram migalhas do meu tempo dentro do carro, no meu quarto no fim da festa ou nos fundos da casa enquanto rolava um churrasco. Ela gostava de mim, eu sei que gostava, e eu nunca fui capaz de escrever um texto para ela. Porquê? Eu também não sei.
Lembro exatamente das palavras que me disse na última vez que dormimos juntos:
- Não fala assim.
- Porquê?
- Porque senão não vou te deixar ir embora agora.
- Mas eu tenho que ir.
- Me chupa?
- Pra sempre.
[...]
- Te vejo ainda essa semana?
- Te vejo ainda essa semana?
- Não sei...
- Não esperava resposta diferente... Eu te ligo ou espero você me ligar?
- Você que sabe.
- Eu sei, você nunca sabe de nada.
- Ainda bem que você já sabe.
- Deixa eu entrar.
- Ei!
- Fala.
- Até quando você acha que a gente vai ficar assim?
- Lembra do que eu falei há meia hora?
- Qual parte?
- A do 'pra sempre'.
- Mas isso foi em relação ao 'me chupa'.
- É, o 'pra sempre' serve pra isso também.
- Entendi...
- Tchau.
- Até.
Ela entrou, esperei que fechasse o portão, ela sorriu de uma das maneiras mais doces que já vi na vida. Nunca mais liguei pra ela, e ela nunca mais me ligou também. Eu precisava deixar que ela seguisse sua vida, eram 4 anos nessa história que eu já sabia bem como terminaria. Ela nunca pediu ou questionou, mas também nunca ganhou um texto meu. Até o dia que eu sabia que seria o último que estaríamos juntos, pelo menos da maneira que tinha sido até então. Ela ganhou um texto meu, provavelmente nem saiba ou tenha lido, mas ela merecia um livro inteiro.
E então me aparece você. E eu já perdi as contas de quantos textos meus você já ganhou, e a maioria deles você nem sabe da existência e nunca lerá na vida. E isso me assusta um pouco porque a última (e única) pessoa que ganhou tantos textos meu foi a mesma pessoa pela qual sofri durante um bom tempo, foi a mesma pessoa que fez com que eu me tornasse frio com todas as outras que tentavam quebrar minha "cúpula de vidro". E agora eis que minha cúpula está completamente estilhaçada e eu já começo aos poucos juntar os meus cacos. A cada reticência, demora na resposta, ou ausência junto uns dois ou três cacos... Mas a cada qualquer sinal de carinho, demonstração mínima de sentimento eu reação inesperada, eu faço questão de pegar aqueles cacos que juntei e jogá-los com força no não, para que eles se espatifem ainda mais..
Entre méritos e deméritos, por favor, não deixe que a história se repita! Não faça com que eu acredite que as únicas pessoas que se importam comigo não ganham meus textos, e que aquelas que ganham simplesmente não se importam...
Até breve (?)
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