Eu já sabia que essa viagem seria, principalmente, uma viagem de (re)descoberta daquilo que realmente ou o que me tornei. Mas ela tem sido muito mais intensa nesse sentido do que eu havia pensado.
Quem é mais próximo à mim, sabe o quão meus pensamento a respeito do ser humano haviam mudado, estava até (de certa forma ainda estou um pouco) descrente do ser humano, muito disso se deve ao direcionamento político que o mundo tem tomado, mas muito disse (já) mudou nesses últimos meses.
Algumas pessoas dizem que semelhante atrai semelhante, se isso for verdade, eu não poderia estar mais feliz com o que sou, pois tenho cruzado com pessoas excepcionais, desde o dia em que pisei aqui.
Os bons são maioria, e agora eu posso dizer isso com toda a certeza.
Poucas pessoas sabem, mas nessa viagem eu tenho me proposto a experienciar a generosidade do próximo, e assim, tentar ao máximo me tornar uma pessoa mais generosa, e melhor para o outro também, e as gratas surpresas não param de acontecer (e claro, devo muito disso à generosidade do destino).
Os primeiros dias são os mais complicados, porque estamos em um local completamente diferente, e precisamos aprender sobre a cidade e a rotina, mas eu tive a felicidade de encontrar pessoas que me mostraram a cidade e, mais que rapidamente, me adotaram e me convidaram a participar de seus ciclos e planos.
Tive a felicidade também de cruzar meu caminho com alunos da mesma escola que me explicaram sobre o funcionamento, restaurantes próximos, rotina...
Perdi as contas de quantas caronas peguei, para os mais diversos lugares, e também de quantas pessoas dedicaram seu tempo a me explicar sobre algo que eu não entendia ou a achar o caminho certo, afinal, sou a pessoa com o pior senso geográfico que eu conheço.
Diversas pessoas já me alertaram sobre lugares perigosos e o que eu devo ou não fazer, e até por onde andar. E diversas pessoas já se juntaram a mim em um local "perigoso" porque eu sou teimoso e queria ir mesmo assim...
E o que falar das pessoas que abriram as portas de sua casa para me receber? Sim, tem três semanas que eu não pago sequer um real para dormir, pois tenho encontrado diversos seres iluminados que têm me recebido, sem querer nada em troca, com a simples intenção de ajudar, e só isso mesmo. Eis um tipo de coisa que eu nunca me imaginei fazendo antes, mas que agora eu não consigo mais imaginar minha vida sem, por exemplo, abrir as portas da minha casa para alguém que precise de ajuda.
Viajar sozinho é uma desconstrução diárias... Tantas certezas e "verdades absolutas" que tínhamos caem por terra. Todo dia somos apresentados e convidados a conhecer novas culturas, pessoas e costumes. Percebemos o quão passamos a vida na nossa zona de conforto, ainda que acreditemos que não, mas só saímos realmente da zona de conforto quando estamos recomeçando ou vivendo um tempo completamente longe de tudo e todos os quais crescemos.
Sair da zona de conforto é assustador, mas também engrandecedor. Passamos a valorizar as pequenas coisas que nem percebíamos. Posso afirmar, o Brasil (país que eu estava bastante descrente), apesar de tudo, ainda é um dos melhores lugares para viver, pois (ainda) somos livre para vivermos e sermos o que quisermos, e por sabermos disso, temos ainda mais vontade de lutar e manter o pouco que conquistamos (ELE NÃO!) mas que, ainda sendo pouco, é muito mais do que muitos outros lugares do planeta. Passamos a valorizar o sol e o bafo quente pela manhã, pois em muitos lugares precisamos vestir mais de 8 peças de roupa pra sair de casa. Passamos a valorizar o gosto do café, que muitas vezes tomamos de forma tão rotineira que nem apreciamos mais sabor (até você só encontrar café solúvel e perceber o quão horrível isso é).
Mas, o mais incrível de tudo, é perceber o quão diferentes todos nós somos, mas que generosidade e amor são universais, MESMO! Já cruzei com gente de todos os continentes aqui, já conheci as mais diferentes personalidades, crenças, costumes... Sei que a maioria dessas pessoas eu nunca mais vou cruzar, outras espero (e me esforçarei) para encontrar novamente por esse mundo, e acho que a maioria delas nem imagina o quão essenciais elas tês sido, até aquelas que nem lembro mais o nome mas que vivi bons momentos, seja no ônibus ou num bar.
Não é de agora que venho me questionando a respeito disso, mas ultimamente isso tem sido mais latente: não sei porque ou se mereço tanto, mas eu sou muito a afortunado com as pessoas que me cercam. Tenho uma família incrível, um companheiro melhor do que o melhor que eu poderia imaginar, amigos foda pra caralho, e agora, até as pessoas que tenho cruzado nessa viagem são sensacionais. Não sei exatamente porquê, mas de fato existe algo que sempre atrai pessoas excepcionais ao meu círculo, e isso é tão engrandecedor pra mim que não consigo nem mensurar.
Até breve (?)
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