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Amigo oculto (3)


Numa dessas idas e vindas da vida, mais uma vez encontrei um garoto que se parecia comigo, mas que mesmo assim era muito diferente.
Diferente de mim, ele tem um coração leve, puro... E até sentimental eu diria.
Ele tem a insistente mania de amar. Na verdade ele gosta de dar amor, gosta de disseminar felicidade, semear sorrisos. Tenho a impressão de que todo mundo gosta dele. Mas poucos o conhecem de verdade, eu conheço.
Ele ainda acredita no amor e nessas coisas todas de felicidade com outra pessoa, e por isso ele sempre se doa demais. Ele costuma se entregar quase que completamente, ainda que tenha lá suas ressalvas e ressentimentos, ele se entrega, se deixa levar... E ele sempre acaba caindo por terra com gosto de féu na boca e uma leve dor de cabeça.
Por já saber disso, procuro sempre estar por perto, mesmo não me intrometendo muito nas suas decisões, até porque sei que ele não me escuta mesmo. Eita garoto teimoso!
Ainda agora, estávamos quase caindo no sono, ele pegou seu celular para ligar o despertador para o dia seguinte e por hábito abriu uma rede social. Vi que ele despertou e ficou até surpreso eu diria. Fecho meus olhos para que ele se sinta a vontade nesse momento que é só dele.
Aproveito a penumbra e volto a observá-lo discretamente. Ele permanece ali, olhando cada coisa com afinco, cada postagem, cada foto, e ele vai cavando, e vai absorvendo tudo aquilo que vê... Eu me preocupo mas logo percebo que talvez não precise interferir... Já vimos essa cena antes.
Ele abre seu email, lê umas coisas e... Ri!
Vejo que ele meio não acredita muito naquilo, tudo parece tão... Incoerente.
Ele deita fecha seus olhos e... Ri!
Abre os olhos, lê tudo de novo e na verdade vejo que ele percebe que há muita coerência. Sempre houve e ele que evitou todo esse tempo enxergar tudo isso, simplesmente porque ele não queria. Mas sempre esteve tudo ali. Talvez agora ele precise de mim. Abro meus olhos, toco em seu ombro, ele me olha, sorri e me olha com os mesmos olhos cumplices de antes. Sorrio de vota. Ele encosta encosta a cabeça no meu obro e pergunta:
"- Aconteceu de novo né?"
"- Sim. Mas dessa vez você sabe o que fazer."
"- Sim, eu sei."

Nós sorrimos, gargalhamos alto e deixamos que o cansaço nos vença. 

Como da outra vez, sei que amanhã ele vai sumir. E vai uns tempos ausente fazendo umas aparições esporádicas e rápidas. Não sei se ele ainda volta, mas a única certeza que tenho é que quando eu acordar ele já terá sumido.

Até breve (?)

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